Kong: A Ilha da Caveira (2017) | Crítica

21:14:00


Matheus R. B. Hentschke

Vamos sem floreios, dessa vez? Jordan Vogt-Roberts é o cara em Kong: A Ilha da Caveira. Nem a estrela, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por O Quarto de Jack, Brie Larson, nem o carisma do inesquecível intérprete de Loki nos cinemas, vencedor do Globo de Ouro por Night Manager, Tom Hiddleston. Não, o diretor - estreante em uma mega produção - é quem rouba a cena, conseguindo quase todos os méritos para si, mesmo quando alguns quesitos não o acompanham a rigor. 


Inúmeros outros já estiveram na posição de ser uma espécie de imagem meramente figurativa na direção, ou seja, ter de trabalhar em um blockbuster, na qual os produtores confiam tanto no material, que o entregam a um diretor que mais serviria como uma marionete em suas mãos, do que alguém verdadeiramente capaz de imprimir qualquer assinatura na obra. Exemplos? Um bastante evidente em um blockbuster relativamente recente: Alan Taylor em Thor: O Mundo Sombrio, que, à época, corria rumores de que Joss Whedon (Os Vingadores e Vingadores: Era de Ultron) teria ido ao set para aparar as arestas. No caso de Kong, o ocorrido no filme do Marvel Studios não poderia ser mais divergente, talvez, com apenas uma semelhança: na escolha de um cineasta com uma filmografia sucinta. 



Com apenas algumas produções menores, de destaque em festivais como os de Sundance, Vogt-Roberts chega com os dois pés na porta, recorrendo ao dito popular, para garantir seu nome na indústria como um diretor com uma assinatura bastante evidente. Ao dirigir Kong: A Ilha da Caveira, na qual a história, que ocorre no fim da Guerra do Vietnã, conta a expedição feita por cientistas, soldados e aventureiros a uma ilha ainda inexistente em mapas no Oceano Pacífico, em que monstros gigantes habitam o local, como o seu rei Kong; Vogt-Roberts traz toda a aura de aventura e guerra existentes em filmes, hqs, games e demais vertentes da cultura pop.

As sequências iniciais, em que o grupo que irá à ilha está sendo recrutado e apresentado, ilustra o quanto a influência de diretores como Francis Ford Coppola e Guillermo del Toro com seus respectivos trabalhos em Apocalypse Now (1979) e Círculo de Fogo (2013) fazem-se presentes na visão de cinema de Vogt-Roberts. O humor um tanto excêntrico dos cientistas interpretados por John Goodman, Corey Hawkins e Tian Jing, quase fora de tom por motivo de um roteiro bastante limitado, e a grandiloquência dos cenas de ação - com criaturas gigantes - dão os ares de del Toro e de seu trabalho inspirado nos Tokusatsus japoneses. As nuances criadas na dinâmica de relação entre os soldados recém saídos do Vietnã, indecisos em suas noções de perda e vitória, como possível perceber em um diálogo entre a fotógrafa Mason Weaver interpretada por Brie Larson e o soldado de alta patente Preston Packard interpretado por Samuel L. Jackson, na qual ele responde a ela que "não perderam a guerra, apenas a abandonaram"; traz a tônica do filme de guerra de Coppola.








Essas inspirações que começam sutis, tornam-se escancaradas na chegada à ilha e às suas desventuras épicas. Aliando, nas sequências de ação, conceitos presentes em video-games como Call of Duty e, mais especificamente, Battlefield Vietnã a um estilo notadamente cooptado de animes, mangás e histórias em quadrinhos, o cineasta assumidamente geek consegue prover dinamicidade e originalidade ao que poderia soar completamente genérico e desinteressante. Há méritos em cenas como a que o grupo de exploradores e soldados encontram Kong, pela primeira vez, em helicópteros e o confrontam, mostrando toda a habilidade de Votg-Roberts com seus planos que sempre procuram sair do trivial e da montagem acelerada na medida certa, contrastando com outros exemplos do cinema pipoca, como Busca Implacável e seus cortes excessivos. Não só isso, mas é preciso comentar sobre o personagem que move a trama: Kong. Com seus 30 metros de altura, os efeitos especiais nele mostram o quanto a produção preocupou-se em trazer algo novo e realmente poderoso a um ser que apesar de movimentar o enredo, não é colocado totalmente no centro, como em adaptações anteriores. 

O que impede Kong: A Ilha da Caveira de ser algo além do cinema pipoca de qualidade, que de fato é, são suas duras falhas narrativas, a começar pela rasa construção de persongens. Evidentemente, a jornada é mais relevante que a arquitetação de complexos personagens em uma obra com um caráter notadamente focado em sequências estilizadas, contudo era preciso uma razoável caracterização. À exceção do Tenente Coronel Packard (Samuel L. Jackson), com sua obstinação pela guerra e, consequentemente, pela morte de Kong, todos os demais personagens soam um pastiche irrelevante de outros tipos apresentados em inúmeras outras obras, a citar, como exemplo, Jurrassic Park: O Parque dos Dinossauros de Steven Spielberg. Tanto o ex-capitão do Serviço Aéreo Especial Britânico, James Conrad (Tom Hiddleston), quanto a fotojornalista anti-guerra, Mason Weaver (Brie Larson), mostram-se completamente jogados ali no enredo para correr e cumprir as funções estabelecidas pelo roteiro. Hiddleston e Larson tentam marcar presença com suas respectivas habilidades como atores, a direção também se esforça em captar bons ângulos, mas nada salva esses personagens esquecíveis e os demais que nem valem menção. 





Em suma, Kong: A Ilha da Caveira possui incríveis cenas de ação estilizadas, acompanhadas da fotografia fantástica de Larry Fong conhecido pelos seus trabalhos com Zack Snyder em obras como 300, Watchmen, Batman vs Superman: A Origem da Justiça, e da incrível trilha sonora com músicas dos anos 70 - saiba mais - trazendo uma vibe de Guerra do Vietnã muito marcante. A falta de uma narrativa que acompanhe todo esse estilo, contudo, traz limitações à obra, devido às suas soluções fáceis e, por vezes, improváveis. Um destaque, para pautar as falhas de roteiro, está em toda jornada e em todas as falas do personagem de John C. Reilly, que se mostram totalmente equivocadas. Mesmo com altos e baixos, a sensação que permanece é agradável, de se ter assistido um bom cinema pipoca com um diretor que merece ser acompanhado de perto em seus próximos trabalhos. Jordan Vogt-Roberts parece que terá um futuro promissor.


Obs.: Espere um pouco até ao final da sessão, pois há cena pós-créditos.

Nota: 7,0 / 10

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