A Lei da Noite (Live by Night, 2016) | Crítica

22:56:00



Matheus R. B. Hentschke

Há um fato notório, proferido à exaustão, no cinema e na arte em geral: quase tudo se copia, se inspira e pouco é verdadeiramente original. Com isso em mente, analisar A Lei da Noite traz à memória os inúmeros exemplos com a temática da máfia, como O Poderoso Chefão de Coppola, Cassino e Os Bons Companheiros de Scorsese e Scarface de De Palma. Todos ótimos exemplares de um gênero que segue uma cartilha de eventos recorrentes, como cada criminoso ser dispensável, a atmosfera constante de que todos terão seu dia de ascensão no crime, mas que a queda sempre soará como um amanhã próximo, as alianças e as rixas entre famílias, a violência, o estilo.

A Lei da Noite bebe dessa fonte inesgotável de um gênero que já viveu seu auge a aproximadamente 30 anos atrás, mas que continua sendo reverenciado e homenageado ainda nos dias de hoje. Contudo, o filme dirigido, escrito e protagonizado por Ben Affleck soa mais como uma ofensa do que como uma inspiração acertada nas obras que outrora dominavam a sétima arte em termos de qualidade. 


A narrativa adaptada por Affleck do livro de Dennis Lehane mostra-se completamente desencontrada, parecendo que o ato inicial se conecta ao ato final sem a necessidade das voltas e reviravoltas do roteiro no miolo disso tudo. Se no início o público é apresentado a um criminoso de baixo escalão chamado Joe Coughlin (Ben Affleck) que vivia de pequenos assaltos a bancos e mantinha uma relação amorosa com Emma Gould (Sienna Miller), a prostituta de luxo do poderoso gângster Albert White (Robert Glenister), já depois da primeira meia hora ocorrem viradas de enredo drásticas que mudam todo o paradigma dessa narrativa. Entretanto, o espectador pouco irá se importar com tais artifícios, visto que a maior dificuldade de A Lei da Noite é dar tempo aos seus personagens e momentos para que eles se desenvolvam de maneira orgânica. Portanto, os eventos ocorrem sem o mínimo de relevância, devido à inexistência de empatia com as situações e o personagens apresentados.


Nem mesmo a ida de Joe para a Flórida para organizar o contrabando de bebidas alcoólicas, então proibidas nos EUA por motivo da Lei Seca, trazem alguma dinâmica diferenciada a uma obra que gradativamente vai se ilustrando como um genérico remendado de coisas que funcionaram no passado. Sequer a entrada de atrizes relevantes, como Zoe Saldana interpretando a irmã de um dos mais influentes homens da região e Elle Fanning interpretando a filha do chefe de polícia local, trazem algum momento diferenciado a película de Affleck. 


Aliando interpretação razoável a fontes externas, parece ser verdade que A Lei da Noite teve o seu processo de pós-produção acelerado pelo topo do escalão da Warner para que seu diretor pudesse se dedicar ao papel mais relevante do momento: o Batman. A montagem, mesmo nas sequências de ação em que Affleck já mostrou-se hábil em outras ocasiões como em Atração Perigosa (2010), parecem não funcionar, colaborando para a sensação de que a trama está dando espirais em questões por vezes irrelevantes, mesmo quando elas deveriam soar de extrema importância.




A temática do preconceito contra os cubanos e os imigrantes irlandeses, a questão do conservadorismo exacerbado de um Estados Unidos falsamente moralista, todas temáticas de relevância, mas que não parecem ser bem conduzidas por um Ben Affleck incapaz de dirigir, de escrever e de atuar nessa obra que se configura como o pior trabalho de sua filmografia tanto como diretor, quanto como roteirista, já que como ator há sim exemplares piores por sua parte. De fato, é uma lástima ver atrizes do calibre de Sienna Miller, Elle Fanning e Zoe Saldana serem tão sub-aproveitadas.

Nota: 5,0 / 10

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