Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) | Crítica

12:04:00


Matheus R. B. Hentschke

Da literatura, Capitães da Areia de Jorge Amado e Os Ratos de Dyonélio Machado. Do Cinema, A Árvore da Vida de Terrence Malick e, por quê não, Manchester À Beira-Mar de Kenneth Lonergan. Ao fazer um mash-up disso tudo, chega-se a Moonlight, mesmo que isso não represente que ele tenha a mesma qualidade de conteúdo dessas outras obras. Entretanto, em todos esses exemplos, tanto literários, quanto cinematográficos, o paralelo a ser traçado está exatamente na união de personagens permeados pela dor e pela incapacidade de compreender suas respectivas realidades de horizontes reduzidos, mas sempre com o foco de seus autores em tentar trazer um significado e um rumo a vida de personagens tão sofridos. 



O protagonista Chiron de Moonlight traz esse aspecto de Naziazeno dos Ratos ou de Lee Chandler (Casey Affleck) de Manchester À Beira-Mar, ou seja, um ser humano incapaz de combater as adversidades colocadas à sua frente, sem conseguir sequer comunicar e expor suas inseguranças e dificuldades para o mundo exterior. O traficante Juan, interpretado por um Mahershala Ali eficiente em seu papel, e sua namorada Teresa, personificada por uma também competente Janelle Monáe, tentam extrair daquele menino uma fala, uma reação para poderem tirá-lo de seu combate solitário contra todas as suas batalhas internas e externas. No entanto tudo parece ser em vão, uma vez que Chiron permanece inerte em seu pesadelo interno, em uma realidade tão dura quanto a mostrada em Capitães da Areia. Dessa relação entre Chiron, Juan e Teresa é que se tem o de mais consistente em Moonlight. Destaque para o momento em que o protagonista discute - com suas limitações - sua sexualidade e o seu paradigma de vida tortuoso com o casal.



Em volta dessa redoma de aparente normalidade na vida do menino representada pelo casal Juan/Teresa, encontra-se a dureza de sofrer bullying no colégio, a insegurança no convívio com sua mãe Paula (Naomie Harris) e seu problema com as drogas e a prostituição, a falta de orientação e de um rumo para sua vida desprovida de momentos de real felicidade. Moonlight traz a ambição de acompanhar a vida desse protagonista em três fases de sua história, como criança, como adolescente e, por fim, como adulto. Há méritos na atuação dos três atores que interpretaram Chiron, mas destaca-se verdadeiramente o trabalho do menino Alex R. Hibbert e do adolescente Ashton Sanders, trazendo todo o sofrimento contido do protagonista com verdade em suas respectivas expressões.

Entretanto, Moonlight não consegue galgar voos mais elevados, em virtude de seu projeto ambicioso não ser calcado em uma narrativa sólida. O roteiro adaptado de Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney, indicado ao Oscar 2017, consegue sim ter méritos na criação de personagens profundos e com uma vasta gama de possibilidades. Mas infelizmente o enredo parece não desenvolver cada uma das preciosidades apresentadas ao longo da narrativa, fazendo com que atuações de grande carga dramática e grande veracidade, como as de Mahershala Ali e Naomie Harris quase não pudessem se destacarem e receberem as suas merecidas indicações ao Oscar. Um dos exemplos mais evidentes dessa falha do roteiro, encontra-se em Teresa, interpretada por Janelle Monáe, que é uma das mais afetadas nesse processo de sub-aproveitamento de personagens, que surgem e desaparecem para dar sequência a uma narrativa um tanto disfuncional. 



A história até consegue manter o interesse do espectador em satisfatória expectativa quando Chiron está vivendo tanto em sua infância, quanto em sua adolescência; porém a chegada na fase adulta, em que Moonlight deveria levar o rumo de sua narrativa para uma elevação que permanecesse junto ao público como a obra de arte ambiciosa que se configurou ao longo de sua duração, acaba por não chegar a lugar algum, deixando a sensação de vazio, de que algo estava desconjuntado em um filme que poderia ter sido muito mais. Ainda assim, Barry Jenkins, também diretor de Moonlight, consegue trazer ângulos interessantes e tomadas ambiciosas de sua película que infelizmente poderia ter sido bem mais, fosse seu trabalho alicerçado em uma narrativa mais orgânica.


Nota: 7,5 / 10

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