A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016) | Crítica

18:12:00


Matheus R. B. Hentschke

Eleições presidenciais americanas de 2016: Hillary Clinton vs Donald Trump. A candidata pelo partido democrata representava a manutenção do sistema vigente no governo Obama: apoio à globalização, foco em questões sociais e humanitárias e alianças diplomáticas internacionais. Em contrapartida, Trump representava o caminho diametralmente oposto para o futuro da América. 

Com seu slogan de "Make America Great Again", o republicano visualizava um país que voltasse a um estado de crescimento e protagonismo perdidos ao longo dos anos, particularmente, em sua visão, após o governo Obama que foi incapaz de reerguer plenamente os EUA - pós crise econômica de 2008 - e ineficiente em sua política externa. 

Ainda que sem posicionar-se de maneira maniqueísta entre republicanos e democratas, A Qualquer Custo usa como pano de fundo narrativo e, por vezes, como foco o interior dos Estados Unidos que, abandonado pelo governo central, após a guerra do Iraque e da crise econômica, encontra-se alquebrado, empobrecido. Nesse contexto, a película acompanha dois irmãos, Toby Howard (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster), que promovem assaltos a bancos com o intuito de saírem da miséria de suas vidas sem rumo em um Texas esvaziado de recursos. Ambos, são mostrados pela óptica do diretor David Mackenzie como sobreviventes de um sistema corrupto dominado por bancos que usurpam os bens de homens que encontram-se distantes da glória que a América um dia já representou. Aqui sim, em relação aos bancos, a obra mostra seu maniqueísmo.

Em oposição aos irmãos, estão os Rangers Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto Parker (Gil Birmingham), que apresentam uma ponte para ilustrar todo o preconceito existente em um tom de humor negro, na qual há a constante tensão entre a visão do homem branco com o homem de ancestrais indígenas. É exatamente dos diálogos travados entre esses personagens é que há a explicitação da justificativa para a existência de A Qualquer Custo, quando Alberto diz que há muito tempo aquelas terras tinham sido tiradas de seu povo por aquelas pessoas que ali habitavam e que agora chegara a vez de elas perderem tudo, mas dessa vez não pelas mãos de um exército, mas sim por causa deles, apontando para o banco Texas Midlands.




Em um amálgama de gêneros, com o Western urbano misturado com um buddy film, a película bebe da fonte de Ondes os Fracos não têm Vez (No Country for Old Men, 2007) de Ethan e Joel Coen ao mostrar a cultura de uma terra dura, na qual todos andam armados em uma região com poucas perspectivas, como pode ser visto em uma fala de um fazendeiro cuidando de suas terras assoladas pelas queimadas dizendo que aquela era sua função assim como será a de seu filho no futuro. Além disso, a obra trabalha a relação existente entre os mais diversos tipos de pessoas que lá habitam, todas letárgicas, exaustas de verem uma América que já não lhes concede mais as mesmas oportunidades. 

O personagem de Bridges, que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante, mostra a alegoria do homem branco já cansado, prestes a se aposentar e sem uma visão clara para seu futuro, em uma forte alusão ao desamparo sofrido pela população interiorana, humilde e sem ensino superior americana, que decidiu as eleições presidenciais de 2016. Os irmãos, interpretados por um Chris Pine irreconhecível e merecedor de uma indicação ao Oscar e um eficiente Ben Foster, mostram o estilo de vida White Trash americano, mas sem grandes arroubos de verborragia, sendo sempre contido, econômico na maneira de estruturar essas tipificações da realidade.

No meio de toda essa análise de contexto histórico-social, a obra é permeada por momentos intensos de ação, com um estilo comparável a Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975) de Sidney Lumet, no qual há um tom de amadorismo nos atos perpetrados pelos irmãos Howard, tornando o desfecho de suas atitudes um tanto quanto imprevisíveis. Bem é verdade que o diretor David Mackenzie e o roteirista Taylor Sheridan conseguiram um feito incrível, o de passar conteúdo político e social sem levantar bandeiras nem para um lado nem para o outro em uma obra econômica com justas indicações ao Oscar (confira os vencedores).

Nota: 8,0 / 10

Trailer:


Entrevista com Elenco:



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