Power Rangers (2017) | Crítica

18:00:00



Matheus R. B. Hentschke

A capacidade de estabelecer uma conexão emocional entre personagens e público é a regra máxima em um blockbuster de qualidade, ou ao menos deveria ser. Nem a narrativa nem a direção, mas sim o poder de criar empatia por parte de cada ser humano apresentado naquela obra é o que traz a um cinema pipoca o seu real valor. Basta pegar rapidamente alguns exemplos que vêm à memória: Missão Impossível - Protocolo Fantasma (Brad Bird, 2011), Os Vingadores (Joss Whedon, 2012) e Deadpool (Tim Miller, 2016). O que eles têm em comum: sem Tony Stark ou Bruce Banner, sem Ethan Hunt ou Wade Wilson não seria possível se cativar ou realmente se importar por nenhum desses exemplares recentes de sucesso tanto de bilheteria quanto de crítica. 


Nesse sentido, Power Rangers, nova adaptação cinematográfica da série televisiva Mighty Morphin Power Rangers dos anos 90, consegue ser permeado por uma aura de clichês aliado a um tom pseudo-realista, que funcionam sobremaneira por um motivo primordial: todos na produção parecem compreender as limitações de seu material e de seu orçamento, logo, perceberam a necessidade de ser cativante seja por meio de seus personagens seja pela atmosfera de crescimento juvenil. Não é que, de fato, deu certo. Isso, sem dúvidas, ocorre pela sintonia acertada existente entre direção e roteiro, que captam a essência de seu projeto ao mesclar conceitos da antiga série da Saban Entertainment, permeado por um humor inocente e por lutas irreais, com uma atualização de conteúdo para a Geração Millennium, envolta pelas redes sociais e pela tecnologia de ponta.

Dean Israelite, diretor de Projeto Almanaque e agora de Power Rangers, assim como em seu trabalho anterior, usa e abusa de sequências e de planos inspirados em outros grandes nomes do cinema de massas. Nos primeiros momentos de seu filme, Israelite já demonstra essa tendência, ao realizar um emocionante plano-sequência - dentro de um carro em alta velocidade - na fuga dos meninos que estavam vandalizando o colégio em que estudavam. Para todos que já assistiram a filmes como Super 8 de J.J. Abrams, é possível compreender uma das bases do diretor para a sequência em específico. Entretanto, as inspirações não param
somente nesse ponto, estendendo-se aos quesitos narrativos e elevando a produção da Lionsgate a um patamar inesperado.

Ao contar a história de cinco jovens que se encontram em uma sala de detenção pelos próximos finais de semana do ano, já percebe-se que o roteiro de John Gatins espelha-se em filmes como Clube dos Cinco e Conta Comigo, ambos produtos de temática adolescente nos anos 80. Quando esses cinco estudantes peculiares, Jason (Dacre Montgomery), um ex-atleta que perdeu sua posição e seus privilégios, Kimberly (Naomi Scott), uma garota com um passado recente turbulento, Billy (RJ Cyler) um autista tímido e com poucos amigos, Zack (Ludi Lin), um garoto ausente que tem de cuidar de sua mãe doente, e Trini (Becky G.), uma jovem autossuficiente e com problemas familiares, encontram-se coincidentemente em um local proibido, eis que eles embarcam em uma jornada de aventura e de autodescobrimento que os levará a assumir o fardo de serem Power Rangers e de terem de defender a Terra contra os ataques de Rita Repulsa (Elizabeth Banks), uma ex-Ranger caída.




Nesse contexto, percebe-se que a obra se bifurca em dois sentidos para captar a audiência em seu projeto revisionista da série infanto-juvenil: por um lado, Power Rangers olha para o seu passado enquanto produto adolescente, abraçando o tom farsesco, com diálogos expositivos para criar ligações emocionais fáceis com seu espectador, só que agora com maior estofo e com um maior foco nos problemas da juventude atual. Nesse ponto, há um grande acerto, ao mobilizar o espectador em prol daqueles jovens de diversas etnias e orientações sexuais - saiba mais - que acompanha aquela jornada envolvido com os desdobramentos e as idas e vindas das desventuras por eles passadas. Por outro viés, a película se abre a cooptar conceitos que funcionaram em obras de sucessos recentes, como Poder Sem Limites (Josh Trank, 2012) e Círculo de Fogo (Guillermo Del Toro, 2013) para conferir maior realismo e maior intensidade em sua aventura pautada pelo crescimento tanto pessoal, quanto coletivo daqueles jovens.

Quanto as sequências de ação, é nítido que o orçamento impede ousadias, bem como um CGI exemplar, contudo, é aqui que Dean Israelite demonstra seu protagonismo na direção. O que poderia comprometer a experiência de assistir o filme, com suas cenas de ação econômicas tanto em valores quanto em aparições, acaba por funcionar de maneira orgânica, devido a capacidade de Israelite em tirar proveito de sua fotografia sombria e de sua montagem dinâmica, qu
e traz a aura de Poder Sem Limites para a saga dos jovens excluídos.



É preciso salientar, entretanto, que a alma de Power Rangers reside em seus personagens. Ainda que Ludi Lin sofra com seu Zack um tanto confuso e Elizabeth Banks tenha de lutar para encontrar o tom de sua vilã Rita Repulsa, os demais integrantes da equipe de heróis escolhidos pelo destino cativam até mesmo quando o roteiro comete excessos em seu humor pastelão e em seu drama novelesco. Como dito anteriormente, a criação de um background sustentável para os personagens e a consequente ligação emocional com eles, acaba por produzir resultados que ocultam, até mesmo, um ou outro deslizes cometidos.

Por fim, vamos direto ao ponto: Power Rangers oxigena o cinema blockbuster com sua "falta de vergonha" de aliar o realista com o farsesco, fazendo o espectador comprar a ideia passada. Se existem dramas pessoais que oscilam entre o convincente e o duvidoso, também há humor à la "fórmula Marvel" para temperar, mas a autenticidade passada pela película recai exatamente em sua habilidade de utilizar esses diversos recursos de outras obras na criação de seu próprio estilo. 

Nota: 7,5 / 10


Trailer:



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