Sucker Punch: Mundo Surreal (2011) | Crítica
23:16:00
Matheus R. B. Hentschke
Um
típico caso de ame ou odeie. Essa é a categoria a qual Zack Snyder pertence
desde a segunda obra de sua carreira, 300 (2007). Já naquela época, ele
revelava sua polêmica assinatura que causa incomodo a muitos e delírio a tantos
outros: sua fotografia saturada, com cores escuras e quando claras, pasteis ou
frias; cenas de lutas arrojadas, bem coreografadas, com uso e abuso de câmeras
lentas; forte destaque para a epicidade, tudo ganhando contornos megalômanos em
suas mãos; todas características que revelam um pouco da singularidade presente nesse polêmico diretor.
Depois de 300, vieram Watchmen (2009) e Lenda dos Guardiões (2010), ambos com recepções mistas e, no caso da adaptação da obra de Alan Moore, mais uma onda de debates acerca de sua qualidade. Eis que chegara o ano de 2011 e pela primeira vez o diretor teria a possibilidade não só de dirigir mais uma película, mas de criar um roteiro de sua própria autoria, configurando-se como a sua primeira obra original. Adivinhe? Mais um filme que dividiu críticos e público.
Sucker Punch: Mundo Surreal parte da premissa da vida de uma garota de 20 anos, que após a morte de sua mãe e irmã, é internada em um hospício pelo seu padrasto, um homem violento e abusador, como ilustrado na excelente sequência de abertura embalada pela fantástica adaptação da canção Sweet Dreams de Eurythmics. Após esse internato forçado, a garota cria um mundo paralelo em sua cabeça, na qual sonhos sobrepostos a auxiliam a enfrentar os problemas de seu duro cotidiano.
Em um
primeiro plano onírico, a garota - Babydoll (Emily Browning) - vive em um
bordel e tenta fugir com o auxílio de suas companheiras: Sweat Pea (Abbie
Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie
Chung). Em uma segunda camada de seu sonho, a cada momento que Babydoll tem de
se expor, sua mente cria imagens de lutas, guerras, as quais ilustram o
contexto de sua vida com muitas cenas de ação.
Cenas, essas, que são de encher os olhos, em virtude da hábil direção de Snyder em meio a tanto CGI e câmeras em slowmotion, captando um pouco dos recursos usados por Guy Ritchie em Sherlock Holmes (2009) em suas coreografias. São nesses momentos que o diretor se diverte e mostra uma das justificativas para Sucker Punch : a de fazer uma homenagem a diversos gêneros que certamente povoam ou povoaram a sua cabeça, produzindo fantásticas sequências permeadas por lutas de samurai, por uma primeira guerra mundial numa vibe anacrônica, por lutas contra robôs e por enfrentamentos contra monstros.
Cenas, essas, que são de encher os olhos, em virtude da hábil direção de Snyder em meio a tanto CGI e câmeras em slowmotion, captando um pouco dos recursos usados por Guy Ritchie em Sherlock Holmes (2009) em suas coreografias. São nesses momentos que o diretor se diverte e mostra uma das justificativas para Sucker Punch : a de fazer uma homenagem a diversos gêneros que certamente povoam ou povoaram a sua cabeça, produzindo fantásticas sequências permeadas por lutas de samurai, por uma primeira guerra mundial numa vibe anacrônica, por lutas contra robôs e por enfrentamentos contra monstros.
Tudo isso
embebido em um estilo steampunk - méritos para a direção de arte e para os
figurinos - que dá o tom que o filme necessita: uma intercalação constante
entre realidade e sonho, na qual ocorre sutis intersecções entre esses planos.
Ambientes sujos, com traços não naturais concedem a obra de Snyder um visual
arrematador, mas que carece de uma fonte basal: o roteiro.
No meio de
mulheres lindas usando lingerie debatendo sobre sua fuga e de lutas visualmente
bem trabalhadas, o enredo pouco entrega, configurando-se como um roteiro falso
complexo, visto que há a ilusão, em um primeiro momento, de que essa mistura
entre o plano real e o plano onírico concedam a obra uma edificação mais
elevada. Contudo, o que ocorre é uma simplificação para justificar inúmeras
sequências de ação e o enredo em si acaba por ser pouco desenvolvido.
Os diálogos são genéricos, bem como as personagens que os proferem. Mesmo assim, Emily Browning, Abbie Cornish e Jena Malone conseguem se sobressair com sua presença em cena, ainda que suas falas e seus conflitos sejam pouco inspirados. Snyder já disse que está acostumado a conviver com mulheres fortes e que gosta de colocar esses exemplos em seus filmes, portanto, há força e potencial em suas protagonistas de Sucker Punch, uma pena é não terem sido melhor desenvolvidas.
Ao final, o
que fica são boas sequências de combates, um visual incrível e um enredo
interessante. Entretanto, aquele gosto de que poderia ter sido mais, tanto em
desenvolvimento de personagens quanto de história, permanecem como um alimento
mal digerido. Mas, Zack Snyder de fato é singular, pois mesmo com tantos
defeitos, Sucker Punch tem força e um vigor surpreendente. Por fim, uma confissão pessoal: que
filme difícil de se dar uma nota, visto que a emoção leva para um lado, porém a
razão para outro. "Ame-o ou deixe-o", esse é o efeito Snyder.
Trailer:
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