Logan (2017) | Crítica
13:20:00
Matheus R. B. Hentschke
Há exatos 17 anos, surgia uma franquia de filmes que revolucionaria a indústria cinematográfica como era conhecida. X-Men, dirigido então por Brian Singer, trazia a famosa equipe de mutantes dos quadrinhos Marvel para as telonas com todos seus dilemas juvenis, suas questões políticas e seus debates étnico-raciais. Naquela época, Hugh Jackman, contratado para ser o intérprete de Wolverine, não passava de um ator praticamente desconhecido do grande público e que vivia no set com os ensinamentos de artistas de renome, como os de Ian McKellen, que interpretava o Magneto.
Passado mais de uma década, a sétima arte encontra-se abarrotada dos mais diferentes exemplares de filmes super-heróicos, e que inclusive se tornaram um sub-gênero dentro do cinema. Não só isso, mas se nos anos 2000, Hugh Jackman iniciava sua carreira, hoje o ator australiano possui uma vasta filmografia, ainda que com seus altos e baixos, e vem encerrar sua passagem com o personagem que o consagrou: Wolverine.
A expectativa ao redor
de Logan não é pouca e um fator primordial explica esse burburinho: apesar de
ser um intérprete de Wolverine do agrado do público e de ter acumulado enormes
dividendos junto à comunidade nerd, Hugh Jackman não conseguiu entregar ainda
um filme solo digno de sua performance. Tanto X-Men Origens: Wolverine (Gavin
Hood, 2009), quanto Wolverine: Imortal (James Mangold, 2013) não agradaram,
inclusive o filme dirigido por Gavin Hood fora massacrado pela crítica e pelos
fãs. Enfim, sem mais floreios: Será que agora foi? Será que finalmente foi
feito o filme que Hugh Jackman merecia?
Logan traz uma realidade em um futuro próximo, mais precisamente em 2029, no qual ocorreu uma espécie de apocalipse mutante, em que todos aqueles com o gene x foram extintos. Wolverine e Charles Xavier (Patrick Stewart) sobreviveram, mas em um estado precário: ambos estão alquebrados tanto física, quanto psicologicamente, devido ao excesso de batalhas e perdas em suas vidas. Já na sequência inicial, o espectador é guiado a assistir um Wolverine, como um motorista de luxo cansado, bêbado, que luta com criminosos de rua para não ter sua limusine roubada, preocupado unicamente com sua sobrevivência.
Já naquele instante é possível perceber o caminho que
James Mangold, diretor e roteirista da obra, e Jackman querem trilhar: o de
trazer uma distopia continda, na qual os poucos mutantes que sobreviveram
sentem as oportunidades e as esperanças se findarem, mas em oposição, o resto
do mundo segue suas vidas como se a questão dos X-Men fosse já um debate
ultrapassado, distante, como é possível ver em um noticiário no qual
jornalistas discutem tal temática.
Esse contexto narrativo também é alicerçado em uma
composição estética que destoa do costumeiro cenário urbano e clean dos filmes
de heróis: o clima árido, sujo remetendo a filmes de Western, como Os
Imperdoáveis de Clint Eastwood, e a histórias em quadrinhos, como O Velho Logan
de Mark Millar e Steve McNiven, aliado a maquiagem pesada de Hugh Jackman,
cheia de marcas, ferimentos e cicatrizes dão o tom certo a Logan de uma total
decadência dos valores e dos costumes ilustrados em outros exemplos da franquia
X-Men.
Contudo, não é só em uma estética acertada que Logan se sustenta, mas
também na dinâmica de relacionamento entre Wolverine, Charles Xavier e a menina
Laura (Dafne Keen), com seus poderes semelhantes aos do protagonista. Assistir
a Wolverine tentando conter uma menina de 11 anos tão ou mais violenta do que
ele é impagável, ainda mais com o contraponto gerado por um Charles Xavier bondoso,
mesmo que agora com um humor mais ácido e com um certo desprezo pelo seu
companheiro mutante. A interação entre eles, de fato, é o que há de maior
estofo na película que mistura o gênero Neo-Western com os Road Movies, como
visto no filme Filhos da Esperança de Alfonso Cuarón.
Entretanto, ainda que James Mangold saiba valorizar sua produção e seus personagens, conseguindo excelentes performances de Hugh Jackman, Patrick Stewart e principalmente da estreante em uma grande produção Dafne Keen, que passa boa parte da película em silêncio, mas com expressões marcantes, Logan apresenta sim suas mazelas. Infelizmente, a indecisão em se definir ou como um filme com assinatura ou como um blockbuster, trazem suas baixas a obra. Assim como há a sequência em que o trio protagonista janta na casa de uma família em um momento de forte valor dramático, há a necessidade de mostrar a repetitiva perseguição de um nêmesis supostamente implacável, que quer capturar a menina, na forma dos Carniceiros, espécie de mercenários que trabalham para uma grande empresa de manipulação genética.
No
entanto, seria razoável a permutação entre momentos de maior carga dramática
com situações de ação desenfreada, ação essa que é mostrada de maneira bastante
gráfica e bem coreografada, porém Mangold repete seus erros cometidos em
Wolverine: Imortal ao incluir vilões genéricos e construções farsescas. Tal
perspectiva, torna-se mais evidente no ato final que, sem dar spoilers, traz
equívocos próximos ao do "Samurai de Prata" visto no final de Wolverine:
Imortal.
Ao término de Logan, a sensação que permanece é mista: sim, esse é um projeto realizado com a paixão e o esmero de quem está encerrando uma longa jornada, mas que conduz aos mesmos caminhos equivocados só que de maneira atenuada. Não é a toa que Hugh Jackman, em uma de suas últimas entrevistas coletivas para promover o filme, disse que não se aposentaria se pudesse participar do Universo Cinematográfico da Marvel, que pertence à Disney. Talvez, sua gratidão seja imensa com a Fox que fizera sua carreira deslanchar, mas o incômodo por sucessivos erros também permaneça. De todo jeito, Hugh Jackman honra seu legado e fecha sua franquia de maneira satisfatória.
Nota: 7,5 / 10
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