Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017) | Crítica
23:21:00
Matheus R. B. Hentschke
Se em 2003, no
lançamento de Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, o resultado fora
um sucesso avassalador e inesperado, agora - em 2017 - as circunstâncias são
sensivelmente diferentes. Para começar, basta olhar o principal elemento da
série: Johnny Depp. Ele, que protagoniza o célebre pirata fanfarrão Jack
Sparrow e que fora inclusive indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pela
sua performance, na data de estreia de A Vingança de Salazar já não conserva
mais sua incrível capacidade de atrair o público apenas com seu nome de peso,
uma vez que sua imagem pessoal soa desgastada devido a graves polêmicas
envolvendo seu relacionamento com a atriz Amber Heard, que o acusou de violência doméstica recentemente (saiba mais).
Além disso,
entretanto, há incontáveis outros fatores que retiram qualquer possibilidade de
Piratas do Caribe alçar voos mais elevados como conseguia com certa facilidade
no passado. Desde seu terceiro capítulo, No Fim do Mundo (2007), a história
contada sobre Will Turner (Orlando Bloom), Elizabeth Swann (Keira Knightley) e
Jack Sparrow (Johnny Depp) parece não apresentar o mesmo frescor e a mesma
qualidade presentes no início da série pertencente à Disney. Para complicar
ainda mais esse paradigma já delicado, quando a franquia optou por filmes
episódicos desde Navegando em Águas Misteriosas (2011) o interesse do público
caiu na mesma medida em que a trama despencava.
Ainda assim,
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar vem com o intuito de trazer novo ânimo
a uma franquia que outrora já se apresentara como uma fonte de entretenimento
bastante respeitável, bem como um meio de bilheteria garantido. No entanto,
parece que dessa vez Jack Sparrow se afunda um pouco mais, limitando as
possibilidades de salvamento. Com uma narrativa simplória e de diálogos pífios,
a nova empreitada de Sparrow tenta estabelecer novos parâmetros para um enredo
desgastado pelo tempo e pelas repetições, mas infelizmente não os faz com
sucesso.
A trama que gira
em torno do Capitão Salazar (Javier Barden), um oficial da Coroa Espanhola que
caça piratas, mas que acaba sofrendo uma dura derrota para Sparrow, ficando ele
e sua tripulação amaldiçoadas, pouco difere dos mesmos conceitos estabelecidos
com o Davy Jones da trilogia inicial, só que aqui sem o mesmo tratamento que em
O Baú da Morte e No Fim Do Mundo. Não apenas isso é emulado do que fora criado
no próprio passado da franquia, mas também a saída de Will Turner e Elizabeth
Swann (que tem breves aparições para conectar a trama de maneira precária) para
a chegada de Carina Smith (Kaya Scodelario) e Henry Turner (Brenton Thwaites).
Se a presença de cena de Orlando Bloom e Keira Knightley forçavam alguma
substância em seus personagens que a muito custo não eram completamente
aplacados pelo Jack Sparrow de Depp, Scodelario e Thwaites sofrem para entregar
o mínimo com seus protagonistas desinteressantes e genéricos, em virtude,
principalmente, de um roteiro de diálogos que insistem em piadas desfuncionais e em caracterizações estereotipadas.
O único
resquício dos bons tempos dos Piratas do Caribe que ainda permanece em A
Vingança de Salazar são as já famosas cenas de ação rocambolescas que misturam
o aventuresco com o pastelão. A sequência inicial, em que Sparrow assalta um
banco à sua maneira de ser, é realmente o ponto alto de uma película preenchida
por defeitos relevantes. Além de alguns acertos na repetição desse tom de
aventura que sempre permeou a série, os efeitos especiais são outro ponto alto
desse episódio. Tanto Salazar, quanto à sua tripulação, mostram um pouco do
esmero da produção nos efeitos. Por falar em Salazar, é lastimável ver Bardem
ser desperdiçado (ainda que de maneira alguma tenha desempenhado mal o seu
papel) com um roteiro que não deixa nada além da criação de um vilão meramente
funcional ao enredo.
No meio de
tantas baixas, a que possivelmente é a mais danosa para Piratas do Caribe
correr o risco de sequer ter mais sequências é o desgaste de seu próprio
protagonista: Jack Sparrow. Seja por um Johnny Depp saturado de realizar um
papel que exige muitos trejeitos e diversas expressões, seja pelo desgaste
natural de assistir à tanto tempo o mesmo personagem que parece ser o único
sustentáculo criado pela franquia, o que fica nítido é que o
protagonismo de Sparrow já não carrega mais esse produto da Disney. Certamente, é chegada a hora de repensar algumas escolhas caso queira dar prosseguimento a mais filmes dos Piratas
do Caribe.
Nota: 6,0 / 10
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