Mulher-Maravilha (Wonder Woman, 2017) | Crítica

12:02:00


Matheus R. B. Hentschke

Mais do que apenas outro filme baseado em histórias em quadrinhos, Mulher-Maravilha (confira o preview completo) carrega um peso que incontáveis outras obras do gênero não tinham de se preocupar. Em primeira instância, o longa traz a difícil missão de ser a pioneira a estrelar uma super-heroína como protagonista. Tendo de vencer a mentalidade insegura das grandes produtoras que duvidam, ou melhor, duvidavam do potencial de uma personagem feminina para carregar em seus ombros o fardo de sustentar uma película própria em um gênero supostamente de interesse masculino, Mulher-Maravilha vem com a audácia e a responsabilidade de fazer valer essa chance, uma vez que assim abrirá a oportunidade para outras heroínas tão badaladas nos quadrinhos terem a oportunidade de encabeçar uma adaptação para os cinemas.


Entretanto, muito além disso, a obra dirigida por Patty Jenkins tinha uma importância crucial para a construção do Universo Estendido da DC Comics: a de emplacar, finalmente, um filme que fosse consenso entre crítica e público. Nem a polarização trazida por Batman vs Superman de Zack Snyder, nem a decepção refletida por público e crítica com Esquadrão Suicida dirigido por David Ayer. Era de suma necessidade que Mulher-Maravilha fosse aquela produção para não se colocar defeitos, a fim de solidificar o ousado projeto de um universo compartilhado traçado pela Warner Bros.

Nesse contexto de grandes exigências, o longa opta por trilhar um caminho mais seguro do que as obras predecessoras de seu universo cinematográfico. Com um roteiro clássico de aventura, a película apresenta a Ilha de Themyscira, na qual habitam as  lendárias guerreiras Amazonas. Comandadas pela Rainha Hipólita (Connie Nielsen), elas vivem em um paraíso isolado do mundo, até que o avião de um oficial do exército britânico Steve Trevor (Chris Pine) cai nos arredores da ilha trazendo a notícia de que uma grande guerra - a Primeira Guerra Mundial - está em pleno andamento no mundo do patriarcado. Imbuída com uma força de vontade e um espírito guerreiro implacável, Diana (Gal Gadot), filha de Hipólita, acompanha Trevor de volta à sua terra para encontrar aquele que ela acredita ser o causador de todo esse horror: Ares, o deus da guerra. 



Nesse enredo bastante alicerçado na famosa jornada do herói, Mulher-Maravilha consegue se mostrar deveras bem executado e substancialmente carismático devido a uma associação equilibrada entre seu visual meticulosamente planejado e sua dinâmica de relação acertada entre seus personagens. O contraponto entre a fotografia reluzente da Ilha de Themyscira e o ar acinzentado passado pela Londres pós-revolução industrial, mostra um pouco do esmero da produção em fazer de suas locações não apenas um deleite visual, mas também uma forma de enriquecer a narrativa contada.

Entretanto, pouco seria elogiada a película fosse ela embasada apenas em seu design de produção e não também em seus personagens valorosos. Muito mais do que apenas um coadjuvante de luxo, o Steve Trevor de Chris Pine agrega no compito geral da narrativa ao fazer um militar de valores nobres que serve como a porta de entrada de Diana nos conceitos de um mundo dominado e comandado por homens. Além de servir como um  ponto relevante para o roteiro, Pine acrescenta vigor e um humor quase inocente para a obra.



Contudo, o maior acerto e o maior destaque reside, sem dúvidas, na performance de Gal Gadot com a sua Mulher-Maravilha que já havia brilhado em Batman vs Superman. Aqui, sua personagem aparece ainda imatura, com um universo de informações a absorver, visto que boa parte de sua vivência até então tinha sido limitada a convivência entre suas iguais. Ao se deparar com uma realidade completamente distinta daquela em que estava acostumada, é que Diana Prince tem de aprender sobre as qualidades e defeitos dos seres humanos aos quais ela nem imaginava conferir tamanha complexidade. Com imponência e propriedade, Gadot encanta com sua atuação que traz o frescor necessário à película, que sem a sua presença tão excepcional, poderia não apresentar a qualidade que de fato tem.

Além disso, é de crucial importância destacar a relevância da diretora Patty Jenkins, famosa por Monster - Desejo Assassino (2003),  para a sensação de missão cumprida nesse longa. Sempre apresentando paixão pela realização desse projeto em cada uma de suas entrevistas, Jenkins acerta em equilibrar sequências de ação bem executadas (com slow-motion inspirados em Zack Snyder) com a dinâmica de relação recheadas de humor entre Mulher-Maravilha e Steve Trevor. Não só isso, mas também a adesão de coadjuvantes que cumprem seus papéis de maneira satisfatória, como a tia de Diana Prince, Antíope (Robin Wright) e os soldados que auxiliam Diana e Steve em sua missão, corroboram a construção de um sólido longa que, com toda a certeza, abriu o caminho que a DC Comics precisava para estabilizar seu universo compartilhado nos cinemas.

Nota: 8,0 / 10

Trailer:


You Might Also Like

0 comentários

OpinaGeek no Facebook