Westworld (1ª Temporada) | Crítica

12:04:00



Matheus R. B. Hentschke


Sendo o carro-chefe da emissora no segundo semestre de 2016 e tendo a dura missão de substituir o todo poderoso Game of Thrones no horário nobre, Westworld era permeada por uma elevada expectativa. Produção de J.J Abrams, elenco de peso com Anthony Hopkins, James Mardsen e Evan Rachel Wood entre os envolvidos, roteiros de Jonathan Nolan fizeram a série ser envolvida por um crescente burburinho. De fato, a HBO mostrou mais uma vez todo o seu poderio e conseguiu entregar uma série tão refinada, que poderá fazer frente, dentro de alguns anos, a notoriedade obtida por GoT.

Por falar em refinamento, essa qualidade começa desde sua trama complexa que parte da premissa de um parque com a temática do velho oeste, na qual robôs - os chamados anfitriões - recebem a todos aqueles que pagarem pela experiência de poder fazer o que quiserem com aqueles seres quase humanos: guerras, assassinatos, estupros estão entre as possibilidades. O espectador acompanha não só a jornada daqueles que estão praticando esse entretenimento com prazeres irrestritos e perversos, mas também o ponto de vista dos anfitriões e das pessoas que criaram e mantém toda essa roda girando. 



Mais do que simples entretenimento, a série propicia um subtexto virtuoso sobre a mente do ser humano, cheia de mazelas e qualidades maculadas, fazendo com que o espectador possa aprender mais sobre a sua psique do que em qualquer outra série. Robert Ford (Anthony Hopkins), co-criador dos anfitriões, e Bernard (Jeffrey Wright), braço direito de Ford, travam diálogos sagazes a todo o momento sobre o que leva uma mente a ser tal qual a de um humano, por meio da autoconsciência e da autonomia de ações. 

Dolores (Evan Rachel Wood) e Maeve (Thandie Newton), bem como todos os anfitriões que acompanhamos, mostram a evolução de mentes pré-programadas, presas no seu looping narrativo, para a de seres que buscam a autonomia em suas vidas, como em uma alusão à constante procura a que todo o ser humano passa para poder dizer-se comandante de sua vida, ainda que a tendência a repetir os mesmos erros seja tentadora. Por fim, tem-se no Homem de Preto (Ed Harris) e William (Jimmi Simpson) personagens que procuram encontrar-se naquele mundo, uma vez que as suas vidas na realidade exterior estão decadentes, sem rumo. 

Tudo isso faz-se presente no meio de um intrincado enredo, cercado de mistérios e de constantes flertes com o terror, tornando esse sci-fi um produto extremamente elaborado e cheio de nuances. Uma série digna de ser vista e revista para apreciar todos esses elaborados detalhes que vão desde a permutação entre gêneros até as mudanças de rumo na história.

A gama de opções dentro da trama é tão vasta que é incrível a façanha do roteiro de Jonathan Nolan e Lisa Joy de conseguir contemplar a contento todos os personagens e enreda-los à história de maneira orgânica, quase não havendo núcleos de personagens na qual o espectador não queira ver o desenrolar dos inúmeros mistérios existentes. A dinâmica do roteiro consegue transformar o enredo inicialmente circular - acompanhada da impecável trilha sonora de Ramin Djawadi (o mesmo por trás da famosa música de abertura de Game of Thrones) - ao ter os anfitriões com suas rotinas monótonas gradativamente sendo alteradas pela entrada de pessoas do mundo real, os "newcomers", e pelo choque entre esses dois polos que externam com exímia habilidade as virtudes e os defeitos de cada um deles e de cada espectador, que se assistir com um olhar atento, poderá enquadrar-se em alguns casos de fraqueza moral apresentadas ao longo dos 10 episódios da temporada.



Os valores de produção também merecem menção honrosa. Figurinos, cenários, bem como a fotografia e a direção conseguem intercalar com maestria o clima de Western presente no parque com a insipidez futurista do complexo administrativo exterior aquele mundo de entretenimento. Sentir a troca de ambientação do Western com saloons e vastos campos contrastando com salas de paredes de vidro e tecnologia de ponta é quase tão impressionante quanto ver o árduo trabalho que o elenco teve ao ter de intercalar emoções na velocidade de segundos, especificamente quando os programadores exigiam que seus anfitriões mudassem suas expressões em diversos momentos para o "modo de análise". 

São poucas as séries na qual é possível reunir um elenco tão capaz que quase só é possível tecer elogios: Anthony Hopkins no melhor papel de seus recentes trabalhos, Jeffrey Wright consegue entregar uma ótima performance, ao configurar-se como um dos protagonistas e Evan Rachel Wood praticamente rouba a cena desempenhando com forte presença de cena sua complexa personagem. A única ressalva ocorre não com a atuação, mas sim com o único pecado do roteiro relativo a personagem de Thandie Newton, Maeve. Ainda que tenha atuado de maneira satisfatória, sua jornada narrativa encontra momentos de pouca fluidez e carisma sendo mais uma falha do roteiro do que propriamente de atuação. Tal ponto, vale o registro, mas ainda assim Westworld é gigante e veio para ficar, sendo uma série que já nasceu cult desde sua origem. Pena ter que esperar tanto até a próxima temporada. Veja 5 motivos para assistir a série com Carol Moreira.


Nota: 9,5 / 10



Trailer:



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